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domingo, 15 de abril de 2012

O que é etnocentrismo? (Parte III)


  • O passaporte

O século XX traz para a Antropologia um conjunto vasto e complexo de novas ideias formuladas por um grupo brilhante de pesquisadores. Tudo isso vai exorcizando o fantasma do etnocentrismo de dentro da disciplina. A visão etnocêntrica dos diversos "outros" desse mundo muito pouco se abala com as revoluções da Antropologia. Relativizar é uma palavra que, até hoje, muito pouco saiu das fronteiras do conhecimento produzido pela Antropologia. Mas acompanhando o etnocentrismo dentro da ciência do "outro", encontramos muitas conquistas.
A Antropologia consegue, hoje, ver que sociedades diferentes podem ter concepções de existência tanto diversas entre si quanto igualmente boas para cada uma.
Com Franz Boas, suas ideias e seus alunos, a Antropologia se transforma substancialmente.
O grande passo que parece estar vinculado ao trabalho de Boas é o de iniciar uma reflexão que veio a relativizar o conceito de cultura. Num programa onde o evolucionismo tomava a cultura ocidental, do "eu", como absoluta e, a partir de seus padrões, organizava toda uma classificação das culturas do "outro", Franz Boas criou a sua revolução.
Foi ele o primeiro a perceber a importância de estudar as culturas humanas nos seus particulares. Cada grupo produzia, a partir de suas condições históricas, climáticas, linguísticas, etc., uma determinada cultura que se caracterizava, então, por ser unica, específica. Este relativismo cultural, essa pluralidade de culturas diferentes, visto por Boas é, se compararmos, uma ruptura importante do centramento, da absolutização da cultura do "eu", no pensamento evolucionista. Ampliou conhecimentos e enriqueceu enfoques através dos quais as diversas culturas do "outro" passaram a ser percebidas e estudadas.
O esforço de relativizar problematiza qualquer "saber". As ideologias, em especial as extremadas, odeiam qualquer possibilidade de relativização. Elas são centradas em seu próprio monólogo e a descentralização quebra sua auto-referência abrindo espaço a uma multiplicidade de pontos de vista, soluções e perguntas.
De qualquer forma, a Antropologia cresce e se transforma muito com isto, e ainda bem, pois é verdadeiro que o caminho de um pensamento que se quer científico é percorrido nesta justa medida.
Mas, esta relativização, que acontece na Antropologia pela mão de Franz Boas, faz com que seu papel, neste processo de fuga ao etnocentrismo, seja um pouco paradoxal. Em outras palavras, Boas não organizou e apresentou para a posterioridade uma teoria da cultura que permitisse, a alguém que fizesse uma história de ideias, antropológicas, tomá-la como um conteúdo evidente do seu trabalho.
O conceito de cultura não fica nitidamente cristalizado no seu trabalho. O interesse do seu pensamento se manifesta mais em levar hipóteses novas do que em torná-las sistematicamente formuladas.
Na inquietação e curiosidade do seu pensamento a cultura humana, ou melhor, as diversas culturas humanas (para Boas elas eram diferentes, plurais) vão ser vistas como relacionadas, ora com o ambiente que envolve o grupo, ora com as línguas por eles faladas, ora com os indivíduos que criam estas culturas.
Preocupado com o estudo da história concreta, particular de cada cultura ao invés de, como o evolucionismo, ter uma história única, geral, onde teriam de caber todas as culturas, voltou-se, definitivamente, para o mundo do "outro". A categoria de história perdia, com ele, o seu "H" maiúsculo tão fundamental aos evolucionistas. O "h", agora, era minúsculo. Não havia uma única história que se acumulava, em direção à sociedade do "eu". O "outro" também passa a poder contar a sua história que não iria desembocar, necessariamente, na "avançada" sociedade do "eu".
Assim, como consequência de um pensamento tão fértil, toda uma geração de antropólogos vai ser influenciada e vai desenvolver, em direções distintas, pistas, toques e intuições que, de alguma maneira, se fundamentavam nos escritos e nos projetos de Boas.
Do etnocentrismo à relativização, em toda parte, em diferentes planos e estratégias, a Antropologia dá andamento ao jogo entre o "eu" e o "outro".
Gilberto Freyre foi um aluno de Boas, que escreveu o livro Casa Grande & Senzala, um clássico da Antropologia brasileira, que fala exatamente sobre à cultura brasileira; que para formar a brasilidade, ele mistura cultura com, clima, geografia e ambiente e com, raças e personalidades dos povos que a formaram e  ainda com, a língua.
São visões da cultura que, comparando ao evolucionismo, a relativizam por colocar elementos próprios à vida do povo que produz essa cultura como chave para seu entendimento. Em outras palavras, são estudos que começam a fugir do etnocentrismo por conseguirem ver que o ambiente onde vive uma sociedade deve ser, por exemplo, fator importante para explicar sua cultura.
Um grupo de alunos parte, para investigar a relação entre cultura e o ambiente, buscando aí explicação para   a cultura e a história das sociedades humanas. Um segundo parte para relacionar a mentalidade, a psicologia dos indivíduos com a cultura por eles vivida. Um terceiro grupo investiga as relações entre linguagem e cultura.
Estes grupos são muito importantes, pois, através deles, mais e mais a Antropologia escapava ao etnocentrismo e relativizava. O "outro" já era olhado com a preocupação de entendê-lo segundo seus próprios problemas, características, segundo sua própria lógica.
Ruth Benedict e Margaret Mead venderam muitos livros nos EUA, onde foram escritos e editados, e no resto do mundo, onde foram traduzidos.Comparando a sociedade americana com sociedades tribais fazendo um trabalho de ida ao "outro" e volta ao "eu". Estabeleceu fértil diálogo com as teorias produzidas pela Psicologia.
A cultura marca as características que quer nos indivíduos ali formados - como se pode ou não se pode ser - e ela mesma se torna função do temperamento e da personalidade dos seus membros. A cultura marca e é marcada. Indivíduo e cultura de influenciam mutuamente. As ideias de personalidade e temperamento são como fatores capazes de determinar a base normativa da cultura.
Um dos maiores problemas desta corrente de pensamento, como de resto dos demais grupos que desenvolveram as ideias de Boas, é aquilo que chamamos de "reducionismo". Ou seja, a dificuldade de explicar alguma coisa que contém várias outras a partir de uma única das coisas contidas. Melhor dizendo, explicar o todo - a cultura - por uma de suas partes, no caso, a personalidade.
O mesmo problema - o "reducionismo" - se dá com o grupo que seguiu a pista de relacionar a cultura com a linguagem. Explicar a primeira com a segunda era o projeto, difícil e extremamente interessante, de um grupo que encarava a cultura privilegiando a língua nela falada como instrumento determinante para o seu entendimento. Neste grupo estava o antropólogo e linguista Edward Sapir, visto por muitos como o mais brilhante dentre os alunos de Boas.
Se a escola personalidade e cultura instaurou um criativo debate entre Antropologia e Psicologia, o grupo cultura e linguagem buscou no debate entre a Antropologia e a Linguística a principal fonte do seu pensamento.
A importância e a atualidade deste grupo está em ter dado muita substância e base para uma série de estudos de linguística e comunicação que procuraram relacionar, por exemplo, o emprego da linguagem e as diferenças de classes sociais nas chamadas sociedades complexas, industriais, contemporâneas.
Assim, a estrutura própria de uma língua qualquer é, para aqueles que a falam, o fator determinante que organiza sua visão do mundo que os cerca. A língua substanciaria a realidade e, para eles, modelaria a ordem cultural.
Um terceiro e também importante grupo de alunos de Boas partiu para relacionar a cultura e o ambiente. Este grupo é liderado por um antropólogo chamado Julien Steward. Aqui fica pressuposta a noção de que o ambiente é o fator determinante que restringe as opções culturais. Os elementos culturais terão nos ecológicos, no ambiente, no meio, o seu determinante fundamental para a mudança, numa espécie de jogo de readaptações e respostas. Ou seja, o ambiente modela a cultura.
Relativizar é sempre mais complicado, pois nos leva a abrir mão das "certezas" etnocêntricas em nome de dúvidas e questões que obrigam a pensar novos sentidos para a compreensão da sociedade do "eu" e da sociedade do "outro".
Nosso "turismo antropológico", do etnocentrismo à relativização, tem no guia Franz Boas alguém capaz de nos deixar grandes lições.

Referências
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção primeiros passos)

O que é etnocentrismo? (Parte II)


  • Primeiros movimentos

Aqui se inicia a busca dos modelos explicativos da diferença. Muita violência, espanto e perplexidade iriam regular as relações entre povos, sociedades e culturas tão impressionantemente diferentes a ponto de uma negar, frequentemente, à outra própria natureza humana.
O século XVI constituiu-se em uma das arenas principais destes encontros, entre a sociedade do "eu" e a sociedade do "outro". Ninguém entendia nada, num certo sentido, mas ali esboçava-se algo que seria um contraste: as formas pelas quais as diferenças foram pensadas. Foi nesse momento que a Antropologia Social ou Cultural se relevou.
O primeiro destes pensamentos, ocorridos na Antropologia e que procuraram explicar a diferença, é conhecido como Evolucionismo. Este, foi um marco fundamental para os estudos que procuravam fazer da Antropologia uma ciência. Assim, a diferença que se ligava em espanto e perplexidade (nos séculos XV e XVI), encontra uma nova explicação (no século XVIII e XIX): o outro é diferente porque possui diferente grau de evolução. Evolução equivale a desenvolvimento; é a transformação progressiva no sentido da realização completa de algo oculto; é o desenvolvimento obrigatório de uma determinada unidade que se revela, pelo processo evolutivo, uma segunda forma, mostrando, então, sua potencialidade; sucessividade.
O evolucionismo biológico - ideia de evolução com o crescimento e a formação dos organismos, tem no livro A Origem das Espécies, de Darwin, na metade do século XIX - e o evolucionismo social se encontram e o segundo passa a ser o novo modelo explicador da diferença entre o "eu" e o "outro". Resultando na permanência do etnocentrismo agora traduzido na sociedade do "eu" como o estágio mais adiantado e a sociedade do "outro" como o estágio mais atrasado, porém nessa lógica o grupo do "outro" passa a ser considerado "ser humano" só está no nível inferior. Para o evolucionismo antropológico a noção de progresso torna-se fundamental, pois é no seu rumo que a história do homem se faz. Acredita-se na unidade básica da espécie humana e o fator tempo passa a ser importante. Progresso, evolução, avanço no tempo; o homem a caminho. A direção é a de um estágio superior de civilização. Uma geração de antropólogos - da Inglaterra, Sir James George Frazer e Sir Edward Burnett Taylor e dos Estados Unidos, Lewis Morgan - começaram a produzir seus estudos sobre a origem e eles procuraram escalonar as etapas de evolução das sociedades que encontravam pelo mundo. A lógica do raciocínio é simples: transformar sociedades contemporâneas em retratos do passado, ou seja, uma sociedade parava no estádio "primitivo" e a outra avançava para um estádio "civilizado".
Porém, restava ainda um problema teórico. A escolha e a definição dos critérios pelos quais seria possível medir o "estádio do avanço" de cada uma das sociedades existentes. Era necessário um instrumento comparativo tipo um "medidor" de progresso. Como por exemplo, se compararmos Brasil, Estados Unidos e Uruguai e o "medidor" for "futebol", teríamos o Brasil como o mais "civilizado", Uruguai como intermediário e os Estados Unidos como o mais "primitivo". Então, faz-se necessário a criação de algo que fizesse as vezes de critério, tendo aceitação, lógica e possibilidade para o estudo comparativo. O conceito adotado pelos evolucionistas foi a cultura. Porém, cultura é todo um complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, leis, costumes e etc. Sabemos que esses tópicos são relativos, mas para os evolucionistas, essas ideias eram nítidas e claras. Retiradas dos seus contextos eles a absolutizavam e assumiam como se as ideias de sua própria sociedade fossem não apenas universais como as melhores e mais bem acabadas. Requeriam uma unidade entre as culturas como se todas tivessem de dar conta de problemas idênticos e que, mais cedo ou mais tarde, os "primitivos" chegariam às formas "civilizadas".
A mudança na sociedade se daria pela invenção, consequência do aperfeiçoamento do espírito científico. Isto faz com que os evolucionistas pudessem pensar o "selvagem" sem conhecê-lo de perto, pois ele era visto como uma fase passada de mim mesmo. Como por exemplo, eu sei a reação das crianças porque eu fui criança um dia. Ou seja, é uma questão de sentar e meditar: Se eu fosse um primitivo...como faria isto ou aquilo? De fato, a sua teoria dispensava qualquer contato com o "outro". A relativização não tinha espaço.
Dessa maneira, temos dois marcos básicos. No extremo inferior os povos "primitivos" e no extremo superior os povos ditos "civilizados".
A contribuição de um dos antropólogos mais famosos da época - Lewis Morgan - foi exatamente calcular as sociedades segundo seu grau de evolução. Para Morgan, a "acumulação do saber" e o progresso das "faculdades mentais e morais dos homens" vão marcando as mudanças de estádios no caminho da evolução.
Dessa forma, aqui no evolucionismo, encontramos ainda, fortemente ligada, a visão etnocêntrica. Porém, apesar de ter o "outro" como "primitivo", como "atrasado", ele é considerado da "natureza humana" da qual eu participo e isso já apresenta alguma diferença. Aqui fica um dilema interessante: dois sistemas de ideias - o "espanto do século XVI e o "evolucionismo" do século XIX - são igualmente inadequados, pois ambos são etnocêntricos na sua maneira de ver o "outro". Entretanto, entre si, apresentam diferenças e, me parece que nesse sentido, o evolucionismo, por se propor a "pensar" o "outro" e discuti-lo como sócio do clube da humanidade, traz em si alguma semente de relativização.

Referências
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção primeiros passos)

Antropologia Social

Definição: Uma ciência que estuda a diferença dos seres humanos.
Nascimento: Nasceu devido ao etnocentrismo.
Objetivo: Ela possui o compromisso da procura de superar o etnocentrismo. O movimento da Antropologia é no sentido de ver a diferença como forma pela qual os seres humanos deram soluções diversas a limites existenciais comuns. Assim, a diferença não se equaciona com a ameaça, mas com a alternativa. Ela não é uma hostilidade do "outro", mas uma possibilidade que o "outro" pode abrir para o "eu".


Referências
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção primeiros passos)

Relativismo Cultural

Existem idéias que se contrapõem ao etnocentrismo e uma das mais importantes é a de relativização.
Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos relativizando.
Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta mas no contexto em que acontece: estamos relativizando.
Quando compreendemos o "outro" nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando.
Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter um fim ou uma transformação. Ver as coisas do mundo como a relação entre eles. Ver que a verdade está mais no olhar no que naquilo que é olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferente.


Referências
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção primeiros passos)

O que é etnocentrismo? (Parte I)

  • Pensando em partir

 Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência.
É um fenômeno onde se mistura tanto elementos intelectuais e racionais quantos elementos emocionais e afetivos. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensar a diferença. E no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc.
A colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, pelas quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós.
O etnocentrismo não é um problema exclusivo de uma sociedade ou época. Dentre os fatos humanos, este talvez seja o de maior unanimidade.
Quando o grupo do "eu" se depara com o grupo do "outro" há um choque cultural. O grupo do "diferente" passa a ser considerado pelo grupo do "eu" como selvagem, bárbaro, primitivo, isto é, a sociedade do "outro" é atrasada, desordenada e confusa. E o grupo do "eu" faz da sua visão a unica possível, a melhor, a natural, a superior, a certa, a perfeita, a civilizada; onde existe o saber, o trabalho, o progresso.
Há paralela a violência a atitude etnocêntrica que pressupõe que o "outro" deva ser alguma coisa que não desfrute da palavra para dizer algo de si mesmo. Na maioria das vezes, o etnocentrismo implica uma apreensão do "outro" que se reveste de uma forma bastante violenta, pois o coloca como "primitivo", "algo a ser destruído", um "atraso ao desenvolvimento". 
O etnocentrismo passa por um julgamento do valor da cultura do "outro" nos termos da cultura do "eu", como por exemplo, ambos privilegiam as funções estéticas, ornamentais, decorativas de objetos que na cultura do "outro" desempenham funções que seriam principalmente técnicas. 
Do ponto de vista do grupo do "eu", os que estão de fora podem ser "brabos" e traiçoeiros ou "mansos" e bondosos (Aliás, "brabos" e "mansos" são termos que são empregados, no Brasil, para designar o "humor" de animais e o "estado" de várias tribos de índios ou de escravos). 
Na nossa chamada "civilização ocidental" existem diversos mecanismos de reforço para o seu estilo de vida através de representações negativas do "outro". Aqueles que são diferentes do grupo do eu - os diversos "outros" deste mundo - por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representados pela ótica etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos. 
Os livros didáticos, em função mesmo do seu destino e de sua natureza, carregam um valor de supostos donos da verdade. Sua informação obtém este valor de verdade pelo simples fato de que quem sabe seu conteúdo passa nas provas. Nesse sentido, seu saber tende a ser visto como algo "rigoroso", "sério" e "científico". Os estudantes são testados via de regra, em face do seu conteúdo, o que faz com que as informações neles contidas acabem se fixando no fundo da memória de todos nós. O índio é para o livro didático apenas uma forma vazia que empresta sentido ao mundo dos brancos. Em outras palavras, o índio é "alugado" na História do Brasil para aparecer por três vezes em três papéis diferentes. 
Primeiro papel do índio: Representado no capítulo de descobrimento, aparecendo como "selvagem", "primitivo", "pré-histórico", "antropófago", etc. Com a finalidade de mostrar o quanto os portugueses colonizadores eram "superiores" e "civilizados". 
Segundo papel: Representado no capítulo da catequese, aparecendo como "inocente", "criança", "infantil", "almas virgens", etc. Com a finalidade de parecer que os índios precisavam da "proteção" que a religião lhes obrigavam a aceitar. 
Terceiro papel: Representado no capítulo "Etnia brasileira", aparecendo com um novo papel - bastante engraçado se comparado aos anteriores - num passe de mágica se tornam "corajosos", "altivos", cheio de "amor à liberdade".
Mais exemplos de etnocentrismos são representados no nosso cotidiano. A "industria cultural" (TV, jornais, revistas, publicidade, cinema, rádio) está frequentemente fornecendo exemplos de etnocentrismo, pois é criado sistematicamente um enorme conjunto de "outros" que servem para reafirmar, por oposição, uma série de valores de um grupo dominante que se autopromove a modelo de humanidade. 
As idéias etnocêntricas que temos sobre as "mulheres", os "negros", os "empregados", os "doidões", os "gays", os "vagabundos", as "dondocas", os "caretas" e todos os demais "outros" com os quais temos familiaridade são uma espécie de "conhecimento" um "saber", baseado em formulações ideológicas, que no fundo transforma a diferença pura e simples num juízo de valor perigosamente etnocêntrico. 

Referências
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Coleção primeiros passos)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Conceito de Ciência

Antes da Idade Moderna, ciência e filosofia tinham praticamente o mesmo conceito. Após uma crise (de estudos filosóficos) que ocorreu entre posições metafísica e naturalista (no Renascimento) tentaram separar o conceito de filosofia e ciência, que sucedeu quando Bacon e Aristóteles se definiram como pólos opostos da reflexão filosófica.
De uma lado, a atitude escolástica, espiritualista, de raízes cristãs, aristotélicas e platônicas. Do outro, uma nova atitude no pensamento filosófico em escolas recentes, com base em teses antiespiritualistas (depois da abertura de horizontes pela filosofia kantista).
A filosofia crítica (confessadamente idealista) deu lugar a sugestões e impulsos indispensáveis de onde saíram várias concepções opostas ao idealismo.
Conceitos de ciência:
- Segundo Aristóteles, a ciência tinha por objeto os princípios e as causas;
- Santo Tomás de Aquino, a definiu como assimilação da mente dirigida ao conhecimento das coisas;
- Bacon e Wolf seguiram uma mesma linha de raciocínio, declararam que ciência cumpre entender "o hábito de demonstrar assertos, isto é, de inferi-los, por consequência legítima, de princípios certos e imutáveis";
- Para Kant, ciência é tudo que possa ser objeto de certeza apodítica.
Um conceito foi acrescentando outro, resultando em um conceito confuso, ou seja, sem clareza, aos seus predecessores. Gerando uma nova tentativa de complementação na definição.
Kant, com sua ação intelectual dos positivistas e evolucionistas, afirmou com efeito, que "por ciência se há de tomar toda série de conhecimentos sistematizados ou coordenados mediante a princípios." O conceito de ciência começa a ficar mais preciso, resultando que, ciência é o conhecimento das relações entre as coisas, fatos ou fenômenos, quando ocorre identidade ou semelhança, diferença ou contraste, coexistência ou sucessão nessa ordem de relações.
A ciência se caracteriza pela tomada de determinada ordem de fenômenos, em cuja a pluralidade se busca um princípio de unidade, investigando-se o processo evolutivo, as causas, as circunstâncias, as regularidades observadas no campo fenomenológico.
Spencer quebra todas as dificuldades e vacilações ainda existentes. Seu método (conceito) é ainda mais perfeito, nítido e simples. Segundo ele, há 3 variantes do conhecimento:
1 - Conhecimento empírico ou vulgar (conhecimento não unificado)
2 - Conhecimento científico (parcialmente unificado)
3 - Conhecimento filosófico (totalmente unificado)
Littré associa o método de Spencer a uma frase bastante utilizada nos compêndios: "A ciência é a generalização da experiência, e a filosofia, a generalização da ciência." Ou seja, para haver ciência é necessário filosofar (pensar) sobre métodos ou teses, e a experiência é a "comprovação" da ciência.
Existe 4 ciências fundamentais que os positivistas, evolucionistas e pragmatistas (do séc. XIX) apontam como inabaláveis: Físico-Química, Biologia, Psicologia e Sociologia.
Separados os conceitos de ciência (ordem de conhecimentos parcialmente unificados) e filosofia (conhecimento completamente unificado dos fenômenos que servem de objeto  toda atividade cognoscitiva, isto é, que adquire conhecimento), resta saber se é ponto pacífico a classificação das ciências que resultaram. Aqui gerou outro cisma espiritualistas e positivistas, pois Comte (Pai do Positivismo) concorre a classificação dos filósofos neokantistas.
Segundo Comte, as ciências são abstratas (aquelas que se ocupam das leis que governam os fatos elementares da natureza) e concretas (como ciências secundárias ou tributárias, que se referem a aspectos particulares dos fenômenos, ex: a zoologia em relação a biologia).
No curso de Filosofia positiva as ciências abstratas são reproduzidas de forma hierárquica, segundo a ordem de generalidade e simplicidade decrescente e a ordem de complexidade e especialização crescente (a ciência seguinte depende da antecedente, porém não segue uma recíproca verdadeira, gerando uma ordem lógica valorativa, ou seja, das ciências inferiores se passa as ciências superiores.) Há 7 ciências fundamentais no curso de Filosofia Positiva: Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Sociologia e por último, a Moral, sendo ela a mais complexa, pois além de considerar a inteligência e a atividade do homem como objeto de estudo, como a Sociologia, considera também o sentimento. Após a valoração positivista, a ciência passa a ficar acima da filosofia, na medida que essa se confunde com a metafísica (conhecimento além da matéria).
Augusto Comte expôs no Sistema Política Positiva, a lei dos 3 estados ou lei da evolução, que coloca a humanidade e o conhecimento em 3 fases sucessivas: o estado teológico, temporário e propedêutica, em que o homem busca as causas e tudo explica, no desejo do conhecimento absoluto ou supremo; o estado metafísico, de transição, em que entidades abstratas explicam os fenômenos ou os fatos se ligam as idéias, ou seja, abstrações personificadas, dominando nesse estado intermédio os filósofos e juristas com a sociedade animada por um sentimento de defesa; e por fim, o estado científico, que é o estado positivo ou físico, ponto final da escala do conhecimento e grau superior de formação definitiva da ciência. Nessa situação, a razão humana tendo deixado a parte a ficção dos teólogos, do estado inicial; despreza a abstração dos metafísicos, do estado intermediário; e se entrega aos processos de demonstração, ou seja, da ciência. (Alguns pensadores foram contras; os idealistas e os neokantistas)
Estes dados, operou a divisão da ciência em duas partes contrárias, entre ciências da natureza e ciências da sociedade. Ou seja, foram separadas em duas órbitas distintas e autônomas.

Referência:
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política.

Objetivo do "Iniciantes do Direito"

Estou fazendo o curso de Direito, percebi que muitos colegas de turma tem dificuldade para interpretar a linguagem dos livros e/ou o conteúdo dado, pois é uma nova etapa, um mundo diferente do que eramos acostumados a vivenciar. Portanto, fiz esse blog com a intuição de ajudar os Iniciantes do Direito e o os que vierem a ser, simplificando o entendimento das disciplinas. Não sei sobre todos os assuntos, mas qualquer duvida podem me perguntar, compartilharei todos os meus conhecimentos e resumirei os assuntos de forma clara para ajuda-los. Podem complementar os conteúdos nos comentários ou perguntar sobre algo que não ficou entendido. Sintam-se a vontade, esse espaço é para trocarmos informações, idéias, notícias e etc.